Najweshele (khoisan) e Emília (bantu) são duas líderes comunitárias beneficiárias do projecto ECOSAN – com actuação na província do Cunene no âmbito do Programa FRESAN – que esperam encontrar na agricultura regenerativa uma forma de aumentar a disponibilidade de alimentos e enfrentar a desnutrição que ameaça o seu povo (khoisan e bantú).
Acredita-se que o povo khoisan (também denominado bosquímano) descenda de povos caçadores-colectores que habitavam a África Austral e que terão desaparecido com a chegada dos bantus a esta região há cerca de 2000 anos. Com a prática da agricultura do povo bantu, o seu território de caça foi-se reduzindo e o povo khoisan, consequentemente, se dispersando. Hoje presente em pequenos grupos em países como a Namíbia, Angola ou Botswana, os khoisan enfrentam os desafios das alterações climáticas.
Na maior parte dos casos, tendo a agricultura pouca expressão nas suas práticas, os khoisan mudam frequentemente de lugar. Vivem isolados e dependem maioritariamente dos frutos silvestres –nombé– e dos animais que caçam –kambambi-, num meio com cada vez menos biodiversidade. Excepcionalmente, na comunidade de Omupapa, comuna de Oshimolo, município do Cuanhama, província do Cunene, encontramos uma atitude colaborativa entre bantus e khoisan, sendo estes auxiliados por parte dos bantus com alguns animais para apoio à agricultura de sequeiro em troca de mão-de-obra, sem se misturarem socialmente. Mas, quando a chuva cai, algumas crianças juntam-se, fazendo-nos crer que as fronteiras que nos separam são de papel e se desfazem sob o desígnio de um mesmo céu.
Najweshele Nangombe, mãe de seis filhos, apenas dois destes sobreviventes, tem a responsabilidade como a mais velha de ser conselheira e de coordenar as mulheres da comunidade de Omupapa na recolha dos frutos. Em criança, a tendência era a de ir com os pais recolher frutos silvestres para comer e, eventualmente, vender, além de cultivar uma pequena quantidade de massango na lavra familiar. Andava de terra em terra à medida que os frutos se esgotavam até se mudar para Omupapa com uma das filhas. Aprendeu a comer um pouco de tudo e a identificar uma raiz especial –twala– que afirma ser “o antídoto para qualquer fruto que faça mal”. Com o apoio do projecto ECOSAN – subvencionado pelo Camões, I.P. no âmbito do Programa FRESAN, com financiamento da União Europeia, e implementado pela Fundação CODESPA em parceria com a Organização Não Governamental ADPP, espera poder cultivar uma diversidade de alimentos em quantidade suficiente para todos os membros da comunidade. Najweshele fica feliz quando, com as chuvas, vê nascerem os primeiros frutos, porém sempre insuficientes para fazer face às necessidades. Por isso, o seu maior desejo é desenvolver actividade agrícola na dimensão que lhe permita obter alimentos suficientes para “matar a fome”.
Desde 2022, o projecto ECOSAN – “Estratégias agroecológicas de produção e recuperação da biodiversidade para a melhoria da segurança alimentar e nutricional na Província do Cunene” encontra-se a apoiar 34 comunidades rurais na província do Cunene, trabalhando nas componentes da agricultura, da nutrição e do aproveitamento de recursos florestais não madeireiros, com vista a contribuir para a redução da fome, da insegurança alimentar e da malnutrição de 1.700 famílias nos municípios de Cuanhama e Cuvelai.
Do outro lado, encontramos Emília Mutango Lucas, de 45 anos, mãe de quatro, tesoureira da ECA Mbembwa ya Culima e beneficiária do projecto ECOSAN na comunidade de Kakindo – onde sempre viveu – comuna de Cubati, município de Cuvelai, província do Cunene. Hoje, com formação prática em temas de agricultura sintrópica, que recebe semanalmente através da metodologia de Escola de Campo, vem aprendendo um modelo de agricultura capaz de satisfazer as necessidades alimentares da família e capaz de, simultaneamente, promover a regeneração do ecossistema. Neste modelo de agricultura, procura-se conservar as espécies vegetais nativas de cada localidade, conciliando-as com espécies exóticas; proporcionar a cobertura permanente de solos que permite cultivar alimentos com pouca água; enriquecer os solos através da incorporação de matéria verde; disponibilizar matéria verde para o solo através da poda; garantir a cobertura permanente dos solos através das plantas perenes; consorciar culturas que permitem ter acesso a mais alimentos diversificados e ricos e ao mesmo tempo gerar ecossistemas mais ricos e robustos.
Semanalmente, Emília participa ainda em sessões teóricas e práticas de educação nutricional no âmbito do projecto. Os cabelos loiros de muitas crianças – que moram distantes de unidades de saúde – denunciam justamente o estado de desnutrição crónica em que se encontram. Neste contexto, a Unidade de Implementação Direta do Camões, I.P. – em coordenação com o projecto ECOSAN e os parceiros Gabinete Provincial da Saúde (GPS) do Cunene e a Direcção Municipal da Saúde (DMS) do Cuanhama – promoveu, em finais de Abril, uma Brigada Móvel (BM) na ECA Omushi, localidade de Oshimumu, comuna de Oshimolo, município do Cuanhama, província do Cunene. Uma acção que permitiu facilitar o rastreio nutricional a crianças entre os 6-59 meses, desparasitação, suplementação em vitamina A, vacinação e realização de consultas gerais e distribuição de medicamentos (cedidos pelo GPS e DMS).
Semanalmente, Emília participa ainda em sessões teóricas e práticas de educação alimentar e nutricional no âmbito do projecto. Os cabelos loiros de algumas crianças – que residem em localidades distantes de unidades de saúde – denunciam justamente o estado de desnutrição em que se encontram. Neste contexto, a Unidade de Implementação Directa do Camões, I.P. – em coordenação com o projecto ECOSAN e os parceiros Gabinete Provincial da Saúde do Cunene e a Direcção Municipal da Saúde do Cuanhama – promoveu, em finais de Abril, uma Brigada Móvel na ECA Omushi, localidade de Oshimumu, comuna de Oshimolo, município do Cuanhama, província do Cunene. Uma acção que visou facilitar o rastreio nutricional a crianças entre os 6-59 meses, desparasitação, suplementação em vitamina A, vacinação e realização de consultas gerais e distribuição de medicamentos, cedidos pelas Instituições de Saúde.
Em breve, Emília e Najweshele serão também apoiadas com sistemas de armazenamento de grãos de baixo custo para reduzir as perdas pós-colheita e contarão com equipamentos de desidratação de produtos silvestres de modo a garantir a sua conservação por mais tempo. “Todas as semanas nos deslocamos de nossas casas para a Escola de Campo à procura de conhecimento para produzirmos mais nas nossas lavras e conseguirmos comida suficiente para as nossas crianças”, partilha Emília com o futuro nas mãos.